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Linguagem como adaptação evolutiva: um resumo sobre as ideias de Steven Pinker

Este conteúdo foi produzido como parte da avaliação da Unidade Curricular Linguagem e Cognição do curso de Graduação em Letras da Unifesp, ministrado em 2017.2 pela Profa. Indaiá Bassani.



Steven Pinker nasceu em Montreal, Canadá. É psicólogo, linguista da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e escritor de livros de divulgação científica. É um dos cientistas que procuram evidenciar a relevância da teoria da evolução para explicar diversos comportamentos humanos, incluindo a linguagem.


Em seu livro “O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem”, que será trabalhado neste resumo, Pinker defende a existência da concepção de um “instinto da linguagem” no ser humano, segundo o qual o cérebro dos indivíduos está naturalmente preparado para produzir e aprender a linguagem. Esse instinto é entendido como algo promovido pela adaptação evolutiva dos seres humanos, mais precisamente, pela seleção natural darwiniana, que se desenrolou durante milhares de anos. Devido a isso, nota-se claramente um envolvimento direto da linguagem com aspectos biológicos, ou seja, a linguagem é parte indispensável da formação biológica do cérebro humano.


Com base nessa teoria, Pinker traça um comparativo entre a capacidade inata dos humanos de adquirir e aplicar a linguagem com a capacidade de as aranhas tecerem teias. A tecelagem não foi inventada e nem depende de fatores culturais, ela simplesmente acontece porque as aranhas possuem cérebros de aranha que lhes proporcionam a possibilidade e competência inata de tecer as teias. E as pessoas sabem falar mais ou menos da mesma maneira, porque elas possuem cérebros de pessoas, o que lhes permite adquirir e produzir linguagem com sucesso. As crianças nascem com a capacidade de desenvolver linguagem. Não é necessário ensiná-las a falar, assim como não é necessário ensiná-las habilidades características e inatas aos seres humanos, como ficar de pé.


Pinker foi evidentemente influenciado pelas ideias de um outro pesquisador fundamental para os estudos da linguagem, Noam Chomsky, considerado o líder da “revolução cognitivista” das décadas de 1950 e 1960, e proprietários de diversos estudos importantes no campo da Gramática Gerativa. Chomsky foi o responsável pela tese de que a linguagem é inata ao ser humano, como um instinto. Entretanto, Chomsky foi um tanto cético quanto a possibilidade de a seleção natural darwiniana ser capaz de justificar as origens da linguagem. “[...] Chomsky se precipitou ao rejeitar a seleção natural por falta de consistência, como se ela não passasse de uma crença em alguma explicação naturalista de um traço” (PINKER, pg. 459).


Assim como Chomsky, Pinker também adota uma gramática universal instaurada na mente dos falantes. Ele compara essa gramática com um programa de computador sofisticado, e diz que é o que cada criança traz no interior de seu cérebro e que lhe possibilita aprender a falar. Então, a língua funciona porque na mente de cada um existe um extenso vocabulário de palavras e seus devidos conceitos, como um dicionário, e há um grupo de regras que combinam as palavras para fazer ligações entre esses conceitos, que demonstram a habilidade de emitir uma quantidade ilimitada de frases e ideias de uma pessoa para outra pessoa e permitem trocar informações. Pensando nisso, a coleta e troca de informações é justamente uma das teorias para o desenvolvimento da linguagem na mente humana, visto que se a espécie se amplifica dependendo de informação, é mais do que necessário que essa desenvolva maneiras de trocar essa informação.


Segundo Pinker, a linguagem passa longe de ser apenas uma criação cultural, que foi inventada por algum sábio, e que pode ser aprendida como aprende-se a arramar o cadarço ou a dirigir um carro. Pelo contrário, ele defende que a linguagem é de caráter genético-evolutivo, é um elemento da composição biológica do cérebro humano, que se desenvolve sem nenhum esforço consciente ou ensino. A linguagem para Pinker é como a fome ou o sexo, faz parte do fenótipo humano, ou seja, faz parte das características apresentadas pelo indivíduo, sendo elas morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. “[...] a verdadeira linguagem tem por localização o córtex cerebral, em particular a região à esquerda do sulco lateral” (PINKER, pg.428). Entretanto, Pinker ainda ressalta a importância da experiência do indivíduo com o mundo e com outros indivíduos, e não nega que ela está intimamente ligada com a linguagem. Diz ainda que a experiência tem muita relevância em um desenvolvimento suficiente da linguagem.


Pinker menciona no capítulo 11, chamado “Big Bang”, sobre a ideia de que o ser humano evoluiu dos chimpanzés. Ele deixa claro que isso não é verdade, mas sim que ambos, humanos e chimpanzés, evoluíram de um ancestral comum, já extinto, que também evoluiu de outro mais antigo ainda e também extinto, e assim por diante. Ele também cita diversos casos de pesquisas que tentaram fracassadamente fazer com que macacos desenvolvessem capacidades linguísticas, e fala sobre a ânsia de tentar produzir habilidades de fala nos ancestrais vivos mais próximos da espécie humana. Pode-se citar dois chimpanzés chamados Gua e Viki, que foram adotados por uma família e pressionados para vocalizar; e também Nim Chimsky, outro chimpanzé, que foi forçado a aprender língua americana de sinais. Ambos não obtiveram muito sucesso nessa empreitada.


Falando em animais, Pinker diz que a linguagem humana é muito diferente dos sistemas de comunicação dos animais, que se baseiam em (1) um repertório finito de chamados, para avisar a presença de predadores, reivindicar territórios etc; (2) um sinal analógico contínuo que registra a magnitude de um estado; e (3) uma série de variações aleatórias sobre um tema. Enquanto isso, a linguagem humana organiza-se na forma de uma gramática (1) infinita, uma gama sem fim de palavras e frases; (2) digital, que proporciona a possibilidade de combinações; e (3) composicional, na qual cada combinação possui um significado diferente.


Muito se pensa sobre o surgimento da linguagem, quando ela se deu. No mesmo capítulo mencionado anteriormente, Pinker traça uma hipótese e indica os primeiros vestígios da linguagem. O primeiro melhor indício de um estilo de vida compatível com a linguagem seria o Homo habilis, que viveu de 2,5 a 2 milhões de anos atrás, e deixou esconderijos de ferramentas de pedras que poderiam ter sido utilizados como base de moradias ou cortes de carne, o que sugere um grau de tecnologia e cooperação. Depois, houve o Homo erectus, que surge entre 1,5 milhão e 500 mil anos atrás, controlava o fogo e utilizava ferramentas bem confeccionadas. Por fim, o Homo sapiens, que surgiu entre 200 e 100 mil anos atrás, que já tinha crânios como os modernos e ferramentas mais completas e elegantes, o que deixa difícil crer que ainda não houvesse a linguagem.


Enfim, a linguagem nada mais é do que “a faculdade de despachar uma quantidade infinita de pensamentos precisamente estruturados de cabeça para cabeça por meio da modulação da expiração” (PINKER, pg. 465). A abordagem de Steven Pinker, assim como a de Noam Chomsky, são abordagens contrárias às feitas pelos behavioristas ou comportamentalistas, que declaram que a linguagem é consequência exclusiva do meio em que os indivíduos se encontram.



BIBLIOGRAFIA

PINKER, Steven. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.


CAMPOS, Jorge. Chomsky vs Pinker: na interface entre Linguística e Psicologia Evolucionária.


ARMOND, Ana Cristina; MONTEIRO, Pedro Malard. O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NA CRIANÇA A PARTIR DA NOÇÃO DE INSTINTO EM STEVEN PINKER.


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